Pote D'oro - Artesãs Quilombolas do Feixo

Mãos calejadas, tingidas pelas miscigenadas cores brasileiras, usam fios e agulhas para costurar retalhos em grandes colchas. Unem pedaços de tecidos, refugos da indústria têxtil que, entre seus dedos nem sempre ágeis, ganham forma de narrativa simbólica: os fragmentos coloridos que aos poucos se unem pela mágica da costura também interligam sensações, experiências, encontros e perdas que cada uma dessas mulheres artesãs já viveram. Transportam, ao mesmo tempo, as vivências de suas ancestrais, guardadas em seu imaginário.

As colchas de retalhos misturam cores sóbrias, algumas escuras, mas também alegres, iluminadas, porque, de certa maneira, materializam uma identidade que muitos insistem em não compreender, ou mesmo enxergar. Por isso, são peças amplas, exuberantes, como se fossem manifestos de uma população tradicional, remanescente de quilombos invisibilizados por um Paraná que insiste em se enxergar europeu, branco, mas também traz nas veias sangue de origem africana, indígena. O Paraná é, de certa forma, uma colcha de retalhos, que pode acolher, trazer calor e aconchego. Mas, para isso, como as colchas, precisa ser visto e estendido à luz de uma cultura que se assuma múltipla, plural.

Por isso, essas peças produzidas ao longo de um processo de oficinas que se estenderam por dez meses no município da Lapa, região metropolitana de Curitiba, são bem mais do que artesanato. São narrativas em forma de tecido e cor, textura e forma, que resultam de momentos de encontro, conversa, troca, cumplicidade. Fios e agulhas que foram interligando histórias de 25 mulheres acima de 50 anos que, algumas mais e outras menos, foram deixando pedaços de suas histórias de vida, vontades, sonhos e, sobretudo, memória. Juntos, eles se transformaram em peças utilitárias, mas também obras de arte popular, carregadas de sentido e sentimentos. Elas são voz, visibilizam essas mulheres, descendentes de escravos, que são um pouco do muito que somos, paranaenses.

O projeto foi desenvolvido pelo designer Luan Valloto, dentro de sua pesquisa de metrado em Gestão Ambiental (Universidade Positivo), sob a orientação do professor doutor Mario Sergio Michaliszyn.

Texto: Paulo Camargo

Fotos: Marina Persegani