Coleção REFÚGIO | 2020
Verão.Outono.Inverno.Primavera
Para criar as peças da coleção “Refúgio”, buscou-se inspiração no diálogo entre culturas que se estabeleceu no Brasil, em Curitiba, com a chegada, nos últimos anos, e de diversos lugares do mundo, de refugiados que buscam reconstruir suas vidas entre nós.
A moda é arte e criação, mas também tem significado político, social. Os imigrantes, com suas cores, histórias e estilos, aos poucos contribuem para a transformação da identidade local. Semeiam, com a sua presença, uma alteridade que provoca, sim, estranhamento, mas também, entre muitos, o senso de acolhimento, de compaixão.
Curitiba e o Paraná foram se transformando ao longo dos séculos muito por conta desse fluxo múltiplo de gente que veio de todo canto do Brasil e do mundo. E esse processo se ressignifica nos tempos atuais.
Somos muitos e múltiplos em nossa essência, porque nos constituímos da miscigenação, da fusão de referências culturais que se entrelaçam, absorvendo traços umas das outras, para, a partir dessa dinâmica, se colocarem em movimento em direção de uma configuração multifacetada.
A coleção “Refúgio” fala sobre olhar ao redor, observar, ouvir, perceber e estabelecer pontes de duas vias. Nesse ir e vir, cores e nomes, formas e sentidos, ganham novos sentidos em peças nas quais há traços de quem chega e de quem recebe, de quem um dia já esteve na posição de refugiado e hoje acolhe, realimentando uma identidade múltipla e mutante e, no fundo, nunca sozinha.
Nesse espaço de confluência, formas, texturas, cores, carregam símbolos das marcas mentais que foram construídas, vividas, sentidas por esses seres em trânsito. O preto ganha sentido nos tons neutros de cicatriz, queimadura, de uma dor que se internaliza, para ser compreendida e tornar-se cura – e recomeço, simbolizado pelos brancos e crus.
Não se refugia, contudo, apenas quem vem de longe. Os que sempre estiveram próximos, por vezes ao lado, também necessitam, por vezes, desse estender de mãos, desse abrir de portas, físicas, reais, ou virtuais, não menos significativas. Refugia-se quem busca escuta, troca e alento. A palavra certa ou o silêncio que não julga, e aconchega. Vestir é acolher e compartilhar identidade. A roupa, assim, torna-se território de refúgio, um lugar para estar.
Texto por Paulo Camargo
Fotos: Marina Persegani e Caroliny Frizo
Modelos: Karla Keiko, Ju Araujo, Amanda Kanasiro, Bernardo Bravo, Emily Gaito.
A Noiva de Linho – Coleção Refúgio
Colab. Enlace
A Colab. Enlace foi realizada entre Luan Valloto e Bruna Boas em conjunto com artesãs crocheteiras.
Foram feitos biquínis de crochê com modelagens adaptadas ao corpo.
Fotos: Caroliny Frizo